Foreira vende casa

Os contratos de aforamento da Fazenda Laranjeiras foram modificados desde o primeiro ano do loteamento que deu origem a Recreio. Três meses depois de assinar o contrato de aforamento, Dona Guilhermina Amélia de Medeiros, viúva de Lino Marques Dias, estava residindo em Ipiabas, Valença(RJ) onde procurou o cartório para nomear José da Cruz Navega como seu procurador para a venda do terreno de 46 metros e 20 centímetros quadrados com uma casa de morada, no Arraial Novo do Recreio. A venda foi realizada no dia 18 de abril de 1885, ficando assim registrada:
Vende a Júlio de Moraes Tavares, morador na mesma Estação Recreio, uma casa térrea coberta de telhas, localizada na Estação Recreio, que divide pela frente com a linha férrea Alto Muriahé, pela direita com uma pequena casa ocupada pela Companhia da Leopoldina, pelo lado esquerdo com terrenos da Fazenda das Laranjeiras. A dita casa edificada nas terras da Fazenda das Larangeiras, junto da Estação Recreio, cujo terreno ela outorgante fez aforamento perpétuo aos proprietários da dita Fazenda Ignacio Ferreira Brito e sua mulher Mariana Osoria de Almeida.
Assim é que Júlio de Moraes Tavares, o proprietário de um dos hotéis de Recreio, assumiu, também, o foro anual de 340 reis por metro quadrado de mais este imóvel adquirido.
Leia os artigos anteriores:

Manoel Joaquim Barbosa


Consulta-nos um leitor sobre a família de Manoel Barbosa, que viveu em Conceição da Vista na segunda metade do século XIX. Acreditamos tratar-se de Manoel Joaquim Barbosa, cuja esposa chamava-se Mariana, e com quem teve os filhos José, Francisco e Ana, todos nascidos antes de 1838 conforme o Mapa de População daquele ano.

Apesar da dificuldade de estudar a família, devido ao grande número de homônimos, levantamos a hipótese deste Manoel ter sido um dos filhos de Francisco da Silva Barbosa e Ana Josefa, que formaram a Fazenda da Boa Vista nos anos de 1830. Isto porque, segundo um processo de 1880, em que Laurindo José Martins e sua esposa Blandina Maria da Conceição tratavam de recuperar o direito e domínio sobre o Sítio denominado Serra dos Monos, informa-se que as terras tinham sido por eles compradas de Manoel Joaquim Barbosa.

Num primeiro momento, a localização destas terras nos remeteriam para Santa Isabel (atual Abaíba). Porém, ao analisarmos outros registros de propriedades da época, observamos que existiram, pelo menos, duas fazendas com o nome Boa Vista. Uma delas, justamente a formada por Francisco da Silva Barbosa, localizava-se na Serra dos Monos, vertentes do Pirapetinga, fazendo divisa com fazendas mais ao norte do distrito de Conceição da Boa Vista. Além disso, observamos a presença de descendentes destes Barbosa pioneiros entre os eleitores de Conceição da Boa Vista após o desmembramento de Santa Isabel.

Propriedade de Francisco Celidônio

Quando, no post de 15 de abril, dissemos que este personagem era morador de Recreio, deveríamos ter explicado a localização de sua fazenda. Com a consulta de um leitor, decidimos acrescentar um comentário naquela data e abrir outro espaço para este assunto.

Segundo os registros pesquisados, Francisco Celidônio Gomes dos Reis comprou, em 1874, terras pertencentes à Fazenda São Luiz, formada por José Gomes dos Santos antes de 1858 no território de Conceição da Boa Vista. Localizada na margem direita do rio Pomba, parte desta fazenda passou a pertencer a Itapiruçu em 1883. Em 1884, Francisco Celidônio comprou uma casa naquele distrito, localizada no largo da Matriz e com fundos para o rio Pomba. Entretanto, continuou como eleitor de Conceição da Boa Vista, onde era alistado, pelo menos, desde 1876.

Importante esclarecer que o distrito de Itapiruçu pertenceu a Leopoldina até 1891, quando foi incorporado a Palma. Por esta razão, Francisco Celidônio foi confirmado como eleitor de Conceição da Boa Vista em 1886, sede da junta que abrangia uma grande área territorial.

Menos de um ano depois da transferência de Itapiruçu para Palma, este personagem veio a falecer, sendo sepultado em Conceição da Boa Vista, conforme informamos no dia 15 abr.

Veja também:Aspectos Históricos de Recreio, MG: Itapiruçu deixa de ser distrito de Leopoldina


Recreio, MG: Criação dos Novos Distritos

Hoje voltamos a abordar a divisão do território de Conceição da Boa Vista, tratando de um dos aspectos da criação do distrito de paz denominado São Joaquim, atual distrito de Angaturama. Segundo o Decreto nº 241 de 21 de novembro de 1890, a população que então pertencia à Freguesia de Conceição da Boa Vista passaria a constituir o novo distrito, cujos limites foram assim descritos:
Art. 2º. As divisas dos novos distritos serão:
§ 1º. De S. Joaquim, pela margem direita do Rio Pomba no lugar denominado – Poço da Onçapor esta acima até encontrar a divisa da fazenda da viuva Souza e seus herdeiros e por esta divisa a abranger a fazenda da Bôa Vista, tomando-se a cabeceira da Agua Limpa, abrangendo a fazenda do finado Felicissimo, tomando-se o espigão em frente á casa da fazenda e por êste acima até virar para o corrego do Barreiro; por êste acima até a serra do Ganjão; pelo alto desta a abranger a fazenda do capitão Benjamin Monteiro de Barros; desta á fazenda do finado Domingos Custodio a fechar na cabeceira do corrego das arêias e dêste a apanhar o espigão que divide as fazendas de Manoel José Ferreira e Manoel Ignacio Gomes em uma réta ao ponto de partida no Rio Pomba.
Assim fica esclarecido que as propriedades de Felicíssimo Vital de Moraes, Benjamin Monteiro de Barros, Domingos Custódio Neto, Manoel José Ferreira e Manoel Ignacio Gomes estavam dentro do território do novo distrito. Além disso, confirmamos que Água Limpa, além de denominar região no atual distrito de Abaíba, também denominava um ribeirão no distrito de São Joaquim. Outras duas denominações que guiam estudos sobre Recreio são Poço da Onça e Barreiro, sendo esta última bastante conhecida nos dias atuais.

Recreio, MG: Contratos de Casamentos

E que mencionamos herança e filhos, continuamos nos baseando no livro História do Amor no Brasil para um comentário adicional. Sabe-se que os casamentos eram atos importantes e que obedeciam, como diz Mary del Priore, “a regras estipuladas pela camada social da família” (p. 166). Segundo Lamberg, citado por Del Priore, “amor e suas manifestações eram coisa de gente pobre ou se referiam às ligações ilegítimas” (p. 160). Porque o objetivo da elite, ao contratar o casamento de seus herdeiros, era preservar ou ampliar o patrimônio e assegurar sua permanência no topo da pirâmide social. nas camadas menos favorecidas, embora sem o mesmo objetivo procurava-se seguir os rituais, numa demonstração clara de incorporação ideológica. Entretanto, as dificuldades para casar na igreja afastavam estesonho” dos mais pobres, aqueles que não podiam arcar com as elevadas somas cobradas pelos padres.
É da mesma autora a observação, extraída de artigo do jornalista Thomas Lino d’Assumpção em 1876, a respeito dos custos menores cobrados pelas igrejas protestantes. Entretanto, não temos notícia de outras igrejas além da católica em nossa região. De todo modo, tivemos oportunidade de fazer uma observação curiosa em livros de cartórios de registro civis de Leopoldina e seus antigos distritos, relativos ao ano de 1889. Em Piacatuba encontramos referências, no livro do cartório, sobre casamentos terem sido realizados anteriormente na igreja. nos demais distritos, foi em vão nossa busca pelo casamento religioso de vários casais casados civilmente. Seriam mais baixos os custos do cartório?
Lembremos, por oportuno, que o casamento civil foi implantado em nossa região em fevereiro de 1889, no cumprimento da Lei 9886 de 7 de março de 1888. Muitas pessoas desconhecem este fato, acreditando que foi um ato da República. De todo modo, apenas a elite passou a casar-se no civil e no religioso ao mesmo tempo. Até porque, não haveria mais outra forma de garantir a preservação do patrimônio de seus herdeiros, que o casamento religioso não teria mais efeitos legais. Quanto aos menos aquinhoados, dificilmente encontramos coincidência entre a data das duas cerimônias.

Recreio, MG: Amores Escravos e Amores Mestiços


Consultar a obra de Mary del Priore para escrever o post de ontem foi oportunidade para reler alguns trechos coincidentes com o encontrado em registros de Conceição da Boa Vista. Referimo-nos ao livro História do Amor no Brasil, de onde copiamos para este comentário o título de um dos capítulos. Diz a autora que as relações entre homens brancos e mulheres escravas, casose prolongassem, adentrando a velhice do parceiro, este não se decidindo por providenciar um casamento com uma mulher branca, acabava por fazer de seus filhos mulatos os únicos herdeiros de seus bens”. (p. 185) Mais adiante Del Priore refere-se ao historiador Robert Sleenes que analisou documentos paulistas onde o assunto aparece. E nós, dentro da singeleza de nosso trabalho, chegamos à mesma conclusão.
Conforme pode ser visto no Livro do Cartório de Notas de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista (1869-1871), folhas 105verso a 106verso, Antônio de Aguiar Vieira concedeu, em 02.07.1870, liberdade para a escrava Maria Ritta e seus filhos Ritta, Manoel e Antão, através de carta cujo registro a seguir transcrevemos.
Escriptura de liberdade que fas Antonio de Aguiar Vieira, como a baixo se declara
Saibão quantos este publico instrumento de escriptura de liberdade virem, que sendo no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezuz Christo, de mil oito centos e setenta, aos vinte dias do mes de Novembro do dito anno, neste Districto de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista, Termo da Cidade Leopoldina, e Comarca do Pomba, em caza de residencia delle outorgante, onde eu escrivão fui vindo, e ahi compareceo como outorgante Antonio de Aguiar Vieira, morador neste mesmo Districto, reconhecido pelo proprio de mim escrivão, e das duas testemunhas ao diante nomiadas e assignadas; do que tudo dou . E pelo mesmo outorgante Antonio de Aguiar Vieira, me foi apresentada a carta de liberdade do thior seguinte.=Eu antonio de Aguiar Vieira, abaixo assignado declaro que de muito su digo que muito de minha livre vontade, e sem constrangimento de pessoa alguma, dou plena liberdade aos meus escravos Maria Ritta, crioula, de idade de trinta annos pouco mais o menos, e aos seus tres filhos Ritta parda, idade de ceis annos, Manoel de idade quatro annos pardo, e Antão de hum anno pouco mais ou menos pardo, os quaes tenho possuido livres e dezembaraçados sem algum embaraço de hypotheca ou pinhora, os quaes todos ficão gozando de liberdades que concedo lhes de hoje em diante como se de ventre livre nascessem, as quais liberdades declaro concedo gratuitamente pelos bons servissos prestados por Maria Ritta, may dos tres libertos Ritta, Manoel, e Antam, e pesso as justissas do Imperio para que sejão os rifiridos libertos mantenidos por vertude desta carta em suas liberdades sem que possão mais ser chamados ao cativeiro por mim o meus herdeiros e por assim ser verdade, mandei passar esta na qual me assigno em presença das testemunhas abaixo assignadas. Conceição da Boa Vista dous de junho de mil oitocentos e setenta. Antonio de Aguiar Vieira, testemunha Francisco Hypolito Vallory. Desta que fis e vi assignar Antonio José de Almeida.=Declaro que a carta estava sellada com estampilha de duzentos reis.= Nada mais se continha em a dita carta de liberdade, na qual me reporto. E por nada mais se conter nesta escriptula de liberdade, e estarem satisfeitas, se pedirão que lhes fizesse esta escritptura que fis e lhes li asceitarão assignarão em presença das testemunhas Carlos Pereira de Sousa, e Francisco Hypolito Vallory, todos reconhecidos de mim Manoel José do Carmo Brandão escrivão qui o escrivi e assigno.
No mesmo livro, folhas 121 a 122, encontramos a escritura de perfiliação que se encontra publicada em http://www.cantoni.pro.br/documentos/indexdocs.html
Neste registro está a carta de 27 de março de 1871 em que Antônio de Aguiar Vieira reconhece a paternidade dos filhos que teve com Maria Rita, nos seguintes termos:

que tendo tres Filhos com huma escrava que foi minha por nome Maria Ritta, os quaes são os seguintes: - Ritta Parda, idade sete annos, Manoel Pardo, idade ceis annos, Antão Pardo, idade hum anno e sete mezes, os quaes reconheço serem meus Filhos proprios assim como os tenho. E para atodo tempo constar, mandei passar esta carta de Filiação
Voltamos a Mary del Priore para lembrar que estas ocorrências chamavam a atenção dos visitantes estrangeiros, os quais entendiam que a facilidade de reconhecimento dos filhos ilegítimos contribuía para uma certa aversão pelo casamento por parte dos homens livres (p.187)

Recreio, MG: Costureiras, Lavadeiras e Hotéis

Escreve-nos um leitor a respeito de nossos comentários de 22, 27 e 28 de janeiro, quando apresentamos os nomes de três mulheres foreiras de terrenos da Fazenda das Laranjeiras. Em sua opinião, as funções declaradas - costureiras e lavadeiras, seriam disfarces para a “profissão mais antiga da humanidadesegundo suas palavras. Com o respeito devido ao autor do comentário, gostaríamos de marcar nossa posição a respeito.
Mary del Priore, em seu livro História do Amor no Brasil, esclarece que o conteúdo da obra não está relacionado às idéias e conceitos da autora, mas àqueles que vigoravam em cada época retratada. E convida “o leitor a olhar um pouco pelo retrovisor da História [...] por meio dos variados documentos” (2006, p.17) que a autora menciona ao longo do livro. É o que temos tentado fazer neste blog, quando apresentamos informações pinçadas nos diversos documentos que pesquisamos. Entretanto, não podemos ir além do que ali está registrado. Seria irresponsabilidade nossa afirmar que as profissões declaradas pelas foreiras eram outras, que não temos respaldo para isto.
De todo modo, entendemos que o leitor faça ilações neste sentido, porque nossa maneira de pensar estrutura-se a partir das informações que vamos coletando ao longo da vida. Sabemos que outros autores publicaram referências como as que a professora Del Priore nos traz no capítulo sobre o amor no século XIX, quando comenta o estudo “A prostituição, em particular na cidade do Rio de Janeiro”, do médico Lassance Cunha. Este autor aborda as “meretrizes de sobradinhoque trabalhavam em hotéis ou nas chamadascasas de costureiras”. Del Priore esclarece que o epíteto refere-se ao fato de serem comunsque mulheres que tinham esse ofício, assim como tintureiras, lavadeiras e cabeleireiras, conservassem seu trabalho embora tivessem ligações passageiras” (p.198).
Uma questão se nos apresenta: o fato de três mulheres assinarem um contrato, comprometendo-se a pagar alguns mil réis de foro anual, é garantia do tipo de profissão que elas exerciam? Podemos afirmar que lavadeiras e costureiras não teriam renda suficiente para honrar o compromisso? Ou seria um preconceito disfarçado, considerando-se que os rendimentos de outros foreiros também se inscreviam entre os tidos como parcos?
Agradecemos ao leitor que nos enviou o comentário e esperamos ter esclarecido nossa posição a respeito do tratamento à informação que retiramos dos documentos da época. Temos tentado “olhar pelo retrovisor da Históriaconforme sugere Mary del Priore. Mas não podemos ultrapassar os registros a partir de interpretações que não encontrem suporte em material produzido no período analisado. Até o momento, nenhum indício encontramos sobre a presença ou atuação de profissionais do sexo durante o período de construção da Estação Recreio. Sendo assim, D. Josepha, D. Guilhermina e D. Ignez continuarão sendo, aos nossos olhos, lavadeiras e costureiras.
Aproveitamos para informar, também, que não nos parece estranha a existência de dois hotéis no arraial que se organizava. Onde ficariam hospedados os trabalhadores da obra? É importante lembrar que estamos tratando da construção de uma ferrovia e que a Estação Recreio foi plantada no meio de uma fazenda, não nas proximidades de algum arraial existente. Pelo que nos foi dado apurar até o momento, os operários, assim como seus superiores imediatos, foram contratados em localidades mais ou menos distantes. E, naquela época, seria impossível voltar para casa ao final da jornada diária.

Recreio, MG: Cachoeira dos Monos e os Tropeiros


Além de ser uma das belezas naturais de Recreio, a Cachoeira dos Monos representa um marco histórico para a cidade. Seu nome refere-se ao ribeirão dos Monos, de cujas águas é formada, e à serra de mesmo nome que abriga as nascentes dos tributários do ribeirão.
A primeira referência encontrada sobre a serra dos Monos vem da Carta da Província de Minas Gerais, elaborada pelo geógrafo Friedrich Wagner em trabalho conjunto com o engenheiro civil Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld. Entre 1836 e 1855 os dois autores coligiram todas as informações possíveis, seja em material publicado ou anotações de expedições próprias pelas diferentes regiões de Minas. Lembrando que Leopoldina, nesta época, limitava-se a leste com São Fidélis (RJ), observa-se na referida Carta que a serra dos Monos localiza-se na divisa entre São Fidélis e Leopoldina, estendendo-se pela margem esquerda do Pirapetinga desde as proximidades da nascente do Feijão Cru até o ponto em que o Pirapetinga muda seu curso para o sul em direção ao rio Paraíba do Sul.
Sabemos que o rio Paraíba (do Sul) era bem conhecido desde o século XVIII, conforme pode ser observado em diversos documentos provinciais. Entretanto, foi somente no final daquele século que o presidente do Conselho de Minas Gerais ordenou que fossem explorados dois de seus afluentes próximos da divisa com o Rio de Janeiro: o Pomba e o Muriaé. Informa-nos Raimundo José da Cunha Matos, em Corografia Histórica da Província de Minas Gerais, que a partir daí foram colhidas notícias circunstanciadas destes rios. Portanto, considerando que a serra dos Monos faz parte da bacia do rio Pomba no local referido, naturalmente concluímos que ela era conhecida quando chegaram os pioneiros.
Não sabemos quem batizou a serra e o rio com este nome. Imagina-se que tenha sido uma referência aos primatas ali encontrados. Sabe-se que a espécie Muriqui, ou Mono-Carvoeiro, era endêmica na região sudeste do Brasil. Em antigos livros de Corografia, observamos que estes primatas são referidos apenas por Mono.
Prosseguindo com nossa hipótese, o ribeirão e a serra teriam recebido tropas que se deslocavam entre São Fidélis e os Sertões do Leste, muito tempo antes do período fixado para o nascimento dos povoados da nossa região. Sabe-se que os tropeiros, comerciantes da época, de tudo davam notícia aos habitantes dos locais por onde passavam. Sabe-se também que, entre os pioneiros de Leopoldina, havia proprietários de tropas. Portanto, acreditamos serem plausíveis as notícias sobre a existência de umrecreio de tropeiros” nas proximidades da Cachoeira dos Monos que, segundo José Alípio Goulart em Tropas e Tropeiros na Formação do Brasil, era comum que eles “batessem estaca” num ponto qualquer quando não fosse possível atingir o povoado mais próximo em horário compatível.
Ainda não encontramos o termorecreio” nas obras que abordam o assunto. Entretanto, o uso pode ter sido estabelecido e não registrado por cronistas da época. De todo modo, entendendo-a porintervalo entre duas jornadas”, o significado da palavra é muito apropriado para a prática daqueles homens que cruzavam nossas matas, rios e serranias. Diz o citado Goulart que as tropas montavam acampamento sempre nas proximidades de um rio, tomando o cuidado de atravessá-lo e buscar um pequeno promontório paraarriar a mercadoria”. Tal providência tinha por objetivo evitar a surpresa de uma cheia durante a noite. Os acampamentos eram percebidos, depois que a tropa partia, pelas estacas fincadas no solo e que serviam para amarrar os animais. Assim, a margem onde estivessem as estacas indicava a direção para a qual seguira a tropa.
Acrescenta o autor que os tropeiros jamais utilizavam as estacas de quem ali estivera anteriormente, porque acreditavam que isto desencadearia algum problema sobrenatural. Conseqüentemente, um local aprazível para o descanso da tropa ficaria, depois de algum tempo, marcado pelas estacas ali deixadas. Conclusão: o local de “recreio da tropapoderia ser identificado muito tempo depois.
Sugerimos, aos leitores interessados no tema, o artigo O Tropeirismo no Brasil, de Claudio Recco, disponível no site Historianet http://www.historianet.com.br/

Recreio, MG: O patrimônio conta a história

A sepultura seguinte, da família Barbosa da Fonseca, é outro monumento do cemitério de Conceição da Boa Vista.



Manoel Barbosa da Fonseca, falecido em 1901, nasceu em Portugal a 11 de agosto de 1834. Em 1871 comprou terras da Fazenda Belmonte, de Francisco Corrêa Dias. Esta propriedade adquirida em Conceição da Boa Vista, constava de 16,5 alqueires localizados à margem do córrego Belmonte e na divisa com propriedade da família de Lucindo José Carneiro.

Foi agraciado com o título de 1º Visconde de São Manuel, para ele criado pelo rei D. Luiz I de Portugal, por decreto de 24 de março de 1886. Por esta época, o governo liberal de Portugal concedeu muitos novos títulos nobiliárquicos aos cidadãos que haviam prestado relevantes serviços à casa real, ao monarca ou ao país. Infelizmente, porém, nas publicações sobre este titular da Nobreza de Portugal consta que ele era proprietário apenas no Rio de Janeiro, sem citar Conceição da Boa Vista onde, naquele ano, era um dos eleitores.

Sabemos que o Visconde de São Manuel deixou pelo menos um filho chamado Manoel Barbosa da Fonseca Júnior, também eleitor de Conceição da Boa Vista em 1886. Sabemos também que a propriedade da família estava dentro do território que permaneceu no distrito depois da divisão de 1890. Corroborando outras informações, e como já vimos no post de 12 de abril, Theophilo Barbosa da Fonseca Moura contratou imigrantes nos anos de 1895 e 1896 para a sua fazenda Belmonte, sendo informado que o desembarque seria na Estação Recreio.

Recreio, MG: Cemitério de Conceição da Boa Vista

Conforme dissemos no post de 25 de março, os cemitérios foram secularizados a partir do Decreto nº 789 de 27 de setembro de 1890. Mas nas décadas anteriores estavam em andamento as construções dos cemitérios públicos, visto não mais ser permitido o sepultamente dentro das igrejas. Entretanto, suspeitamos que mais tarde algumas pessoas ainda tenham sido enterradas em cemitérios paroquiais, que os registros respectivos não são encontrados onde deveriam estar, ou seja, nos livros para isto destinados.

Desta forma, consideramos que o início das operações no Cemitério Público de Conceição da Boa Vista tenha ocorrido nas penúltima década do século XIX. Ressaltamos que a existência de jazigos perpétuos naquele cemitério, relativas a falecimentos entre 1873 e 1876, pode significar que tenha havido traslado dos corpos para o novo cemitério cujas etapas de construção podem ser constatadas nos livros do Cartório de 1882 a 1884.

Em visita recente, Pedro Dorigo recolheu imagens de sepulturas de algumas das tradicionais famílias que participaram do movimento de divisão do distrito de Conceição da Boa Vista. Entre as sepulturas mais bem conservadas, foi encontrada esta de Francisco Celidônio Gomes dos Reis, falecido em 1892. 

Nascido a 5 de junho de 1846 em São José do Barreiro, SP, era filho de José Celidônio Gomes dos Santos e de Catarina de Jesus Alves, herdeiros da Fazenda do Formoso, em Barreiros. Seu avô paterno, Joaquim Gomes de Siqueira e Mota era parente de José Gomes dos Santos, de quem Francisco Celidônio comprou terras em 1874. Trata-se de uma parte da Fazenda São Luiz, na margem do rio Pomba, ao norte do Arraial Novo. Esclareça-se que o avô do vendedor chamava-se também José Gomes dos Santos e residia em Conceição da Boa Vista desde, pelo menos, 1856, tendo formado a Fazenda São Luiz na qual viveu com seu filho José Gomes dos Santos

Francisco Celidônio casou-se com Clara Monteiro Lobato Galvão de São Martinho, filha de Antônio Augusto Monteiro de Barros Galvão de São Martinho e de Maria Nazaré Negreiros Saião Lobato. Em virtude da esposa de Francisco ser herdeira da Fazenda Santa Isabel, acreditávamos que o casal residisse naquele distrito. Entretanto, não só o túmulo encontrado em Conceição da Boa Vista, como também a compra de terras e escravos registradas neste distrito, assim como a divisão de quarteirões dos novos distritos, em 1892, veio confirmar que Francisco Celidônio foi morador de Recreio.

Recreio, MG: Monumentos de Conceição da Boa Vista

Como nos lembrou um amigo deste blog, a Igreja Matriz de Conceição da Boa Vista chama a atenção do visitante. Monumento da católica que ocupou aquele território na primeira metade do século XIX, sofreu diversas obras de reforma ao longo do tempo, não sendo possível precisar detalhes ou sequer informar o nome dos artistas que a construíram ou reformaram. Atualmente, assim podemos encontrá-la.

Um outro recanto aprazível deste distrito é o jardim da Vila, no qual está a capela abaixo, construída em 1893.

Estes monumentos nos permitem perceber os valores estéticos de um tempo distante, lembrando que eram construídos por sugestão do representante local da Igreja Católica e com recursos dos moradores do lugar

Em viagens de pesquisa pelas localidades no entorno de Leopoldina, algumas vezes pudemos observar grande semelhança entre as construções mais antigas. Referimo-nos, especialmente, ao apuro ornamental que encontramos no interior de capelas, igrejas e outros monumentos. O que nos faz lembrar que um dos mais famosos artistas, com trabalhos citados em publicações da Capital da República, foi o português Ignacio de Castro Buena Flor, nascido por volta de 1847 e falecido em Leopoldina no dia 8 de julho de 1920.

Buena Flor construiu magníficos altares em igrejas da zona da mata mineira. Infelizmente suas obras foram desaparecendo, muitas vezes dilapidadas pelos próprios responsáveis por sua conservação, como dizem ter acontecido com a primeira capela do Colégio Imaculada Conceição de Leopoldina. Não podemos afirmar que tenha sido ele o autor dos artefatos que compunham a Igreja de Conceição da Boa Vista. Por antigos almanaques soubemos quea Matriz de Leopoldina possue um altar-mór, que é um primor de talha do artista Ignacio Buena Flôr, ricamente dourado às expensas de Manoel Antonio de Almeida”. Em outra passagem informa queBuena Flôr é o artista que talha seus altares e elegantes pulpitos por encomenda dos fazendeiros do distrito da Leopoldina que desejam ver seus santos protetores bem ornamentados”.