Uma Genealogia em Estudo

Juliana, Marcus e Emilio Martins Dorigo nasceram em Recreio, filhos de Jeferson Ferreira Dorigo e Mercês Martins Simão. Representam famílias com profundas raízes em Recreio.

O estudo sobre os Dorigo estão sendo divulgados neste endereço. Sobre os Ferreira pretendemos publicar um ensaio brevemente, estando na dependência de verificar a existência de vínculos com os Ferreira Brito e Almeida Ramos, famílias povoadoras do município de Leopoldina, além dos Souza Lima. Faltava identificar a ascendência materna.

Mercês Martins Simão é filha de Arcelino de Oliveira Simão, cujo resumo biográfico foi publicado no informativo Polis número 16 que pode ser lido aqui. Sua mãe foi Maria Lucia Pinho Martins, nascida aos 4 de abril de 1925 em Recreio, onde faleceu no dia 20 de setembro de 2002.

Os avós paternos de Mercês foram Américo Simão e Amélia Oliveira. Os avós maternos foram Guilhermino Augusto Martins e Mercês Aragão Pinho.

Américo Simão, nascido aos 6 de março de 1893 em Sapucaia, RJ e falecido no dia 14 de outubro de 1960 em Recreio, era filho dos italianos Guglielmo Simoncini e Clemenza Tartarini. Américo foi comerciante em Recreio, tendo sido homenageado pela nomeação de uma Praça no centro da cidade, entre o Casarão dos Melido e o Bazar Pinho. Casou-se em Recreio, a 6 de maio de 1914, com Amelia Oliveira de quem ainda não temos outras informações.

Guilhermino Augusto Martins, o avó materno de Mercês, nasceu em Vila Flor, Bragança, Portugal, no dia 7 de maio de 1889. Era filho de Francisco Manoel Martins e Maria Candida Pereira Cabral. Passou ao Brasil em 1909, estabelecendo-se no centro da cidade do Rio de Janeiro onde trabalhava, em 1922, numa casa comercial da rua Teofilo Ottoni. Transferiu-se para Recreio naquele ano, ao casar-se com Mercês Aragão Pinho.

Foi comerciante na cidade e posteriormente voltou para o Rio de Janeiro, já casado pela segunda vez com Adelia Zamagna, filha dos italianos Claudio Zamagna e Sofia Gigli. Faleceu no Rio de Janeiro aos 20 de dezembro de 1966.

Mercês Aragão Pinho nasceu em Além Paraíba, no dia 24 de setembro de 1899 ou 1900. Seu nome é uma homenagem a Nossa Senhora das Mercedes, ou das Mercês, que a Igreja Católica reverencia especialmente no dia 24 de setembro, lembrando a aparição da Santíssima Virgem no ano de 1218 na Espanha. Este evento teria ocorrido na presença de São Pedro Nolasco que por isto decidiu fundar uma ordem religiosa dedicada à mercê, ou seja, a obras de misericórdia em benefício dos cristão cativos em mãos mulçumanas. Nossa Senhora da Mercedes é, por esta razão, padroeira de Barcelona, Espanha.

Filha dos portugueses Manoel Lucrecio Leite Pinho e Rosa Aragão de Paula, Mercês Aragão Pinho cursou Odontologia no Instituto Metodista Granbery, em Juiz de Fora. Teve formação apurada, dedicando-se a diversas artes, incluindo a fotografia. Entretanto, não exerceu a profissão para a qual se habilitou, casando-se e dedicando-se exclusivamente ao marido e filhos. No dia 30 de dezembro de 1934, pouco mais de um mês após dar a luz ao oitavo filho, faleceu no Rio de Janeiro, na Casa de Saúde Santo Antonio, para onde se transferira em busca de tratamento médico para os problemas decorrentes do parto. Foi sepultada em Recreio.

Na geração seguinte dos ancestrais de Juliana, Marcus e Emilio Martins Dorigo vamos encontrar o italiano Guglielmo Simoncini, nascido por volta de 1858 na província de Bologna, região da Emilia Romagna, Itália. Filho de Giovanni Simoncini e Maria Bogni, Gugliemo passou ao Brasil em 1888, casado com Clemenza Tartarini, filha de Serafino Tartarini e Gaetana Obti. Desembarcaram do vapor Cachar no Porto do Rio de Janeiro e foram encaminhados para a Hospedaria Horta Barbosa, em Juiz de Fora, onde Guglielmo assinou contrato com um fazendeiro do município de Cataguases e para lá se dirigiu no dia 18 de novembro daquele ano.

É possível que a fazenda onde Guglielmo trabalhou ficasse localizada no então distrito de Nossa Senhora da Conceição do Laranjal. Parece que Clemenza e Guglielmo Simoncini estiveram por pouco tempo na fazenda, saindo para atividades não agrícolas em Estrela Dalva e Sapucaia. Posteriormente radicaram-se em Recreio onde ele faleceu no dia 17 de agosto de 1924.

Assim como aconteceu com numerosos italianos, o sobrenome foi modificado, sendo provável haver parentesco de Guglielmo com os Simões, descendentes de Alfredo e Vittorio Simoncini, espalhados por diversas cidades mineiras.

Nesta mesma geração ascendente temos os portugueses Francisco Manoel Martins (filho de Joaquim Antonio de Azevedo e Maria Candida Martins) e Maria Candida Pereira Cabral (filha de Francisco Diogo Pereira Cabral e Margarida de Jesus).

Como se viu acima, Francisco e Maria Candida foram pais de Guilhermino Augusto Martins que se casou em Recreio com Mercês Aragão Pinho. O pai dela, Manoel Lucrecio Leite Pinho, nasceu no Aveiro, Portugal, no dia 19 de março de 1875, filho de Antonio Gomes Pinho e Lucrecia Leite. Manoel Lucrecio foi funcionário da Companhia Estrada de Ferro Leopoldina e faleceu em Recreio aos 22 de março de 1930. Foi também comerciante, fundador do Bazar Pinho, no centro de Recreio.

Manoel Lucrécio casou-se no dia 1 de janeiro de 1889 em Recreio, com Rosa Aragão de Paula. Ela nasceu em território que hoje pertence ao município de Rio das Flores, RJ. Era filha de José João de Paula e Ana Aragão, provavelmente ruralistas na margem esquerda do rio Preto, que marca a divisa entre os estados de Minas e Rio de Janeiro, nas proximidades do atual município de Rio Preto, MG. José João faleceu em Recreio, no dia 6 de maio de 1914. Ana Aragão também faleceu em Recreio, aos 2 de dezembro de 1926.

Ainda estamos analisando a possibilidade de Juliana, Marcus e Emilio Martins Dorigo serem parentes de Miguel José de Aragão, escrivão do cartório de Conceição da Boa Vista na década de 1890. Miguel era natural de São Pedro do Jarmelo, Concelho da Guarda, Portugal, filho de Francisco José Aragão e Máxima Cândida de Macedo. Casou-se com Izabel Augusta Guedes, natural de Santa Izabel, atual município de Mucugê, Bahia, filha de Antonio Pereira Guedes e Maria Pereira. O casal teve pelo menos um filho batizado em São José do Rio Preto que é hoje o município de Rio Preto, Minas Gerais, mesmo local onde viveram José João de Paula e Ana Aragão acima citados.

Registre-se, ainda, que Rosa Aragão de Paula, irmã de Mariana Aragão de Paula, em Recreio casou-se com Antonio Borges de Souza no dia 20 de novembro de 1897. O marido de Mariana era filho Antonio Borges e Joaquina de Jesus, sendo interessante destacar que o sobrenome Borges de Souza está presente em moradores de Ribeiro Junqueira, Vista Alegre e Itapiruçu no final do século XIX.

Num texto publicado em 2009 na Revista Topoi, do Instituto de Pós Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a professora Mary del Priore cita o seguinte trecho de Marcel Schwob na obra Vidas Imaginárias:

"A ciência histórica nos deixa na incerteza sobre os indivíduos. Ela só nos revela os pontos pelos quais eles se ligaram às ações gerais. Ela nos diz que Napoleão sofria no dia de Waterloo, que é preciso atribuir a excessiva atividade intelectual de Newton à continência absoluta de seu temperamento, que Alexandre estava bêbado quando matou Clitos e que a fístula de Luís XIV pode ser a causa de algumas de suas resoluções. Todos esses fatos individuais só têm valor porque modificaram os acontecimentos ou porque poderiam ter desviado a série. São causas reais ou possíveis. É preciso deixá-las aos sábios."

Nós acreditamos que, ao estudar a genealogia dos indivíduos, abrimos oportunidade para analisar os pontos de suas biografias que determinam ou são decorrentes do momento histórico no qual estiveram inseridos. No caso deste ensaio que estamos publicando, transparecem algumas práticas bastante conhecidas pelas atuais gerações de moradores de Recreio. Provavelmente todos sabem de alguma trajetória semelhante, seja pela atividade profissional, pelas migrações ou por outros fatores.

E acreditamos, principalmente, que nos sentirmos parte de vivências semelhantes desperta o desejo de conhecer um pouco mais. Como declarou Marcel Schwob, as causas reais ou possíveis são objeto de estudo dos sábios. Mas nós, pessoas comuns, talvez só nos interessemos pela produção destes sábios quando percebermos que um dos nossos esteve ali, naquele dado momento. E, portanto, nós e nossos ancestrais também somos participantes da mesma história.

Os ancestrais de Juliana, Marcus e Emilio Martins Dorigo são uma amostragem possível para estudar passagens da história de Recreio. Estudando, aprendemos. Aprendendo, podemos amar. Amando, passamos a lutar pelos ideais da mesma comunidade.

Este texto se tornou possível através da colaboração de muitas pessoas. Agracedemos, especialmente, a Elisabeth Dorigo de Oliveira e Mercês Martins Simão, que forneceram pistas para localizarmos as seguintes fontes:
  • Cartório da 3ª Circunscrição do Registro Civil, Rio de Janeiro, RJ, Lv Óbitos jun1935 a abr1936 fls 111 termo 3999.
  • Cartório da 4ª circunscrição do Rio de Janeiro, Lv óbitos Dez 1966 - Jun 1967 Vol. 147 fls 6.
  • Cartório de Registro Civil [Conservatória] de Vila Flor, Bragança, Portugal, Ano 1889, fls 91, registo 19, lv nr 2137.
  • Cartório de Registro Civil de Conceição da Boa Vista, termo de tramissão do primeiro escrivão.
  • Cartório de Registro Civil de Providência, Leopoldina, MG, lv 4 fls 67-v.
  • Cartório de Registro Civil de Recreio, MG, lv 4 cas fls 54.
  • Cartório de Registro Civil de Recreio, MG, lv 5 óbitos fls 170.
  • Cartório de Registro Civil de Recreio, MG, lv 6 óbitos fls 15.
  • Cartório de Registro Civil de Sapucaia, RJ, lv 3 nasc fls 104 v termo 880.
  • Igreja Menino Deus, Recreio, MG, lv 3 cas fls 58.
  • Igreja Menino Deus, Recreio, MG, lv 4 cas termo 8 fls 154v.
  • Instituto Metodista Granbery (Juiz de Fora, MG), Jornal O Granberyense, abril 1935, nr. 14 com acréscimos da neta Mercês Martins Simão Dorigo.
  • Livros da Hospedaria Horta Barbosa (Arquivo Público Mineiro), SG 801 fls 207 família 305, passageiros 37 e 38.
  • Passaporte Português, emitido em Bragança, Portugal, 1ª repartição, nº 859, registado no livro 23, fls 179.

A Imprensa em Minas Gerais

Na Revista do Arquivo Público Mineiro, volume 1, páginas 169 a 239, encontra-se um artigo sem indicação de autoria, historiando os primeiros tempos deste meio de comunicação em terras mineiras. Na primeira página o autor informa tratar-se de uma "refusão" de monografia publicada em 1894 e atualizada para aquele número da Revista. A revisão foi concluída em dezembro de 1897.

Através deste artigo ficamos sabendo que o primeiro órgão de imprensa, denominado Abelha do Itaculumy, circulou em Ouro Preto e era impresso na Officina Patricio de Barbosa & Comp. O primeiro número saiu no dia 14 de janeiro de 1824 e, a partir daí, era publicado três vezes por semana.

A segunda localidade a contar com um órgão de imprensa foi São João d'El Rei, onde a 20 de novembro de 1827 apareceu a folha Astro de Minas. Ressalta o autor que, no final da primeira década após o surgimento do Abelha do Itaculumy, apenas dez localidades mineiras haviam criado e desenvolvido o jornalismo. Já no final de 1878 haviam sido fundados 69 órgãos de imprensa no estado, sendo que alguns tiveram vida curta seja por terem encerrado as atividades ou por terem sido substituídos por periódicos com outra denominação.

Em Leopoldina e municípios vizinhos as folhas mais antigas foram:
1 - O Operário, 19 de maio de 1877 em Além Paraíba;
2 - O Leopoldinense, 1879 em Leopoldina;
3 - O Tentamen, 1882 em Mar de Espanha;
4 - A Folha de Minas, 9 de novembro de 1884 em Cataguases;
5 - O Municipio, 1887 em São João Nepomuceno;
6 - O Guarará, 15 de maio de 1892 em Guarará; e,
7 - Correio da Palma, 29 de maio de 1892 em Palma.
Quando fez a revisão de sua monografia, o autor constatou que, entre estes pioneiros locais, apenas os jornais O Leopoldinense (de Leopoldina), O Guarará (de Guarará) e Correio da Palma (de Palma) continuavam circulando. Os demais deixaram de existir, sendo substituídos por outras folhas. Entretanto, haviam sido criados novos órgãos informativos que são apresentadas pela data de lançamento. Para o município de Leopoldina, foram registrados os seguintes:

1 – O Leopoldinense – 1879
2 – O Princípio da Vida – 1885
3 – O Povo - Campo Limpo, 18 de novembro de 1885
4 – O Passaro – 1886
5 – Estrela de Minas – 29 de julho 1887
6 – A Ideia Nova – 1887
7 – Irradiação – 25 de fevereiro de 1888
8 – Gazeta do Leste – 1890
9 – A Voz Mineira – Na Estação do Recreio, 1890
10 – A Leopoldina – 1892
11 – Voz de Thebas – No arraial desse nome, 1894
12 – A Phalena – 1894
13 – Correio da Leopoldina – 1895
14 – Gazeta da Leopoldina – 1895
15 – Mediador – 1895
16 – Tiradentes – No arraial de Vista Alegre, 1897

Na conclusão do trabalho consta que:
Como se vê, dos 123 municípios do Estado de Minas [...] 68 têm imprensa periodica, com 119 orgãos [...]
Entre esses municipios contão-se treze que tem orgãos de imprensa nas respectivas sedes e também em simples arraiaes ou povoados.[...]
Registramos o facto porque elle revela que até em localidades pequenas ou de categoria administrativa secundaria, já é a imprensa apreciada como elemento de progresso e indiscutivel necessidade social.

Temos, assim, mais uma fonte de informação para o surgimento da imprensa em Recreio no ano de 1890. Acreditamos, entretanto, que o autor do artigo seja o mesmo Xavier da Veiga que organizou o Efemérides Mineiras, obra na qual nos baseamos em postagens anteriores sobre a imprensa em Recreio.

Peter Blasenheim comenta jornais e arquivos em Minas

Em conferência proferida no dia 16 de agosto, em Cataguases, o professor norte americano Peter Blasenheim fala sobre os jornais, fonte secundária que ele teve dificuldade de localizar quando realizou pesquisas na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, há cerca de 30 anos. E manifestou desagrado com a falta de organização do Arquivo Público Mineiro.

Agrademos à professora Natania por gravar e divulgar no You Toube alguns trechos desta conferência.

A Estrada de Ferro não passou por Conceição da Boa Vista

Convidamos nossos leitores a reverem a postagem de março de 2007, intitulada A Divisão de Conceição da Boa Vista e os comentários nela incluídos. Trata-se do início do capítulo de nossos estudos sobre as mudanças que acabaram por esvaziar um dos mais antigos distritos daquela região, sujeitando-o administrativamente a um novo distrito então criado e que é hoje o município de Recreio.

Gostaríamos de contar com a participação de outros interessados no tema porque acreditamos que todas as versões sobre a mudança do trajeto da ferrovia devem ser levadas ao conhecimento público.

Aproveitamos a oportunidade para lembrar que os comentários neste blog são moderados, ou seja, são publicados apenas depois de analisados. Muitas vezes temos recebido comentários contendo terminologia inadequada ou informações fantasiosas e não autorizamos a publicação. Em outros casos, os comentários trazem fontes interessantes e optamos por fazer nova postagem sobre o mesmo assunto.

104 anos de fundação do jornal O Verbo

Segundo Leonardo Ribeiro da Silva, historiador de Recreio, no dia 9 de agosto de 1906 saiu a primeira edição do jornal O Verbo. Tendo se dedicado a estudar o periódico para sua monografia de graduação em História, ele destaca a importância deste órgão de comunicação para o município, durante todo o período em que circulou.

No mês em que estamos comemorando um ano do Pólis, jornal criado pelo Leonardo em agosto de 2009, não poderíamos deixar de saudar o aniversário de fundação deste antecessor. Sem nos esquecermos, também, de que este ano completam-se 120 anos do surgimento da imprensa escrita em Recreio, iniciada pelas páginas de A Voz Mineira.