Recreio, MG: Chefes de Família

No documento que estamos analisando, observamos que o Terceiro Quarteirão traz os nomes dos primeiros moradores de Conceição da Boa Vista, Ribeiro Junqueira, Abaíba e parte de Providência. Esclarecemos que Quarteirão era a denominação das divisões administrativas dos distritos e que o Terceiro Quarteirão parece corresponder ao território que em 1851 foi elevado a Distrito de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista. Assim é que, entre os fogos que receberam os números 67 a 95, e comparando-se com o Registro de Terras de 1856, os povoadores de Recreio seriam: Francisco da Silva Barbosa, João Baptista de (Paula) Almeida, Joaquim Ignacio de Moraes, Manoel José de Navaes (Novaes), Procerço Jose Correia (de Lacerda), Manoel Ferreira Brito, Felliciscimo Vital (Moraes) e Laurianno José (de Carvalho).

Recreio, MG: Contagem Populacional

Provavelmente outros estudiosos tenham por objetivo a identificação dos personagens que povoaram as terras onde se formou o município de Recreio. Considerando que um pesquisador sempre pode colaborar com o estudo de seus pares e que dificilmente uma busca deste tipo pode ser levada a cabo por uma pessoa , vamos reunir as informações de que dispomos.

Reputamos como impossível a elaboração de uma listagem exaustiva que contemple todos os nomes daqueles que modificaram a paisagem até então ocupada pelos nativos. Nossa opção é, portanto, divulgar os dados de documentos a que tivemos acesso.

Os chamados Mapas de População eram listagens organizadas pela paróquia e cujo principal objetivo era controlar a arrecadação de impostos. No território objeto de nossos estudos, a primeira destas contagens é de 1831, realizada pela Igreja de Madre de Deus do Angu. Entretanto, dela não consta a delimitação dos quarteirões, dificultando a identificação do local de moradia dos paroquianos. a Relação nominal dos Habitantes no Destricto de S. Sebastião do Feijão Crú, Termo da Villa da Pomba, contagem de 1838, divide os moradores em quatro quarteirões.

Importante destacar que a listagem foi encaminhada ao Presidente da Província de Minas através de uma carta na qual podemos observar o seguinte termo de fechamento:

Dios Guarde a V. Exª muitos Annos

Novo Corato de S. Sebastiam do Texouro do Municipio da Pomba

26 de outubro de 1835

Manoel Ferreira Britto

Juiz de Paz

Supomos que este Manoel Ferreira Brito seja o pai de Ignacio e Francisco Ferreira Brito porqueapenas um do nome como chefe da família onde Ignacio e Francisco aparecem como filhos. Como Juiz de Paz, foi ele o encarregado de organizar os dados em uma listagem onde constam o número dos fogos (moradias); os nomes do chefe da família, seus dependentes, agregados e escravos; a idade de cada pessoa; a qualidade (cor); o estado civil e uma observação sobre ser ou não alfabetizado.

Recreio, MG: Casa-se o Ignacio Ferreira Brito

Segundo a mais conhecida versão da história de Recreio, Ignacio Ferreira Brito morou com seu irmão Francisco, até casar-se com Mariana Ozória de Almeida, filha de Joaquim Cezário de Almeida e Luciana Esmeria de Almeida. Importante ressaltar que a sogra de Inácio era irmã da sogra de Francisco, ambas filhas do lendáriocomendador” Manoel Antônio de Almeida.

Quando o Curato de Conceição da Boa Vista foi elevado a Distrito de Paz, em 1851, o nome do sogro de Inácio foi registrado como proprietário das terras que marcavam o limite do novo Distrito com Madre de Deus do Angu. Assim é que reunimos o Joaquim Cezário de Almeida aos mais antigos moradores do território que formou, no século XX, o município de Recreio.

Em 1869, Inácio Ferreira Brito comprou, de Domingos Custódio Neto, uma “morada de casas” no largo da Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista. Seria, em termos da época, a sua residência na área urbana. Ali ele recebeu o Escrivão, em diversas datas do anos subseqüentes, para oficializar transações imobiliárias. Inclusive a hipoteca da Fazenda das Laranjeiras.

Recreio, MG: Francisco Ferreira Brito constitui família

Francisco Ferreira Brito casou-se, antes de 1859, com Messias Rodrigues Gomes, filha de Antonio Rodrigues Gomes (filho) e Rita Esméria de Almeida. O sogro de Francisco foi, seguramente, um dos primeiros moradores do Feijão Crú. Em 1829 comprou parte das sesmarias concedidas a Fernando Afonso Correia de Lacerda e Jerônimo Pinheiro de Lacerda em 1817. Em 1856 a fazenda formada por Antonio Rodrigues Gomes tinha o nome de Águas Vertentes e ocupava terras hoje divididas entre Ribeiro Junqueira e Recreio.

A sogra de Francisco Ferreira Brito era filha do “comendador” Manoel Antonio de Almeida, um dos povoadores pioneiros de Leopoldina. Temos, portanto, mais um exemplo de que as famílias se reorganizavam pelo casamento de seus descendentes. Neste caso, recordemos que o pai de Francisco era neto paterno de Manoel Ferreira Brito e Maria Teresa de Jesus, sendo sobrinho-neto de Joaquim Ferreira Brito, outro pioneiro de Leopoldina.

Ao casar-se, o dote da esposa de Francisco Ferreira Brito foram terras da grande fazenda de Antonio Rodrigues Gomes, na qual o novo casal formou a Fazenda da Boa Vista, vendida em 1871 para Vicente Rodrigues Gomes. Entretanto, por esta época o casal residia na Fazenda das Laranjeiras, vizinha da Boa Vista e também da Bocaina, a primeira de propriedade dos herdeiros de Antonio Rodrigues Gomes e a segunda dos filhos e netos de Manoel Ferreira Brito.

Comparando-se os diversos documentos encontrados, conclui-se que Manoel Ferreira Brito ocupou terras que vieram a pertencer ao Distrito de Conceição da Boa Vista, na divisa com o atual distrito de Ribeiro Junqueira. Teria sido, portanto, vizinho de Antonio Rodrigues Gomes (filho).

Recreio, MG: Divisão Político-Administrativa

Tivemos oportunidade de observar relações de parentesco ou compadrio entre quase todas as famílias que iniciaram a ocupação sistematizada de nossa região. No nosso entender, isto aponta para a pré-existência de uma determinada cultura concernente àquele grupo, resultando em tentativas de reconstruir, nas terras do Feijão Cru, o ambiente do qual provinham. Lembra-nos Benito Bisso Schmidt, em Construindo Biografias (Rio de Janeiro, Revista de Estudos Históricos, n. 19, 1997), que as articulações entre a vida pública e a vida privada explicam e justificam o desenrolar dos acontecimentos que se pretenda resgatar com grande distância no tempo. Por esta razão, Schmidt cita Christopher Hill quando sugere incorporar os acontecimentos da época em que o biografado viveu.

Para uma contextualização mais detalhada, torna-se necessário remontar à história de Leopoldina por diversas razões. Uma delas é o fato de que muitos dos antigos moradores de Recreio chegaram na região junto com os povoadores pioneiros daquela cidade, sendo com eles aparentados. A outra razão, que inscrevemos entre as principais, é a subordinação político-administrativa do território. Entretanto, para não sermos repetitivos, sugerimos que o leitor consulte o site www.cantoni.pro.br se desejar conhecer detalhes da história de Leopoldina.

Aqui
neste espaço, chegamos à década de 1850 com documentos um pouco mais abundantes. Sabemos que desde 1831 o serviço religioso houvera sido iniciado no Feijão Cru. Além das atividades estritamente religiosas, era na Igreja que se realizavam muitos atos da vida civil, como as reuniões políticas e o alistamento eleitoral. Assim, as famílias de Recreio precisavam deslocar-se com alguma freqüência para Leopoldina.

Mas sabemos também que em 1834 fora constituído o patrimônio de Nossa Senhora da Piedade, o atual distrito de Piacatuba, que passou a atender parte das demandas dos moradores que não estavam tão próximos da sede. No outro extremo geográfico, nasceu o Curato de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista, cuja data oficial de criação do Distrito é o ano de 1851.

Em 1854, com a elevação do Feijão Cru a vila e cidade, a Piedade e Conceição da Boa Vista passaram formalmente ao comando de Leopoldina, muito embora saibamos que de há muito operava-se tal vínculo.

Recreio, MG: Localização do casal Manoel e Maria Josefa

No decorrer de nossos comentários, outras pistas serão fornecidas sobre as terras ocupadas pelos pais de Ignacio e Francisco Ferreira Brito. Entretanto, como nosso objetivo é falar das antigas famílias de Recreio, vamos agora mencionar os vizinhos da família segundo o Registro de Terras de 1856.


Embora não tenha sido identificado um Registro de Terras em nome de Manoel Ferreira Brito, concluímos que este personagem viveu no território entre Recreio e o atual distrito de Ribeiro Junqueira, a partir das seguintes evidências:

- na descrição das posses de Joaquim Mendes do Valle, Francisco Mendes do Valle, Salvador Mendes do Valle, João Mendes do Valle e Francisco Baptista de Paula, seus vizinhos eram: ao sul, Antonio Augusto Monteiro de Barros; a leste e norte, Manoel Ferreira Brito; a oeste, João Baptista d'Almeida e Francisco José de Freitas Lima.

- João Baptista de Almeida declarou avizinhar-se ao sul e oeste com Francisco José de Freitas Lima; ao norte com o Recreio, Francisco Barboza, Manoel Ferreira Britto e Águas Vertentes; ao Leste com Manoel Ferreira Brito, Águas Vertentes e os Mendes.

- Francisco da Silva Barbosa informou que sua propriedade dividia-se com José Thomaz de Aguiar (ou Aquino) Cabral, D. Marianna de tal, Processo José Correia, Manoel José de Novais, Manoel Ferreira Brito e João Baptista de Almeida.

Portanto, concluímos não pela localização das terras de Manoel Ferreira Brito como pela existência de uma propriedade chamada Recreio em 1856.

Recreio, MG: Informes sobre Manoel Ferreira Brito e Maria Josefa da Silva

Segundo o que pudemos apurar, Manoel Ferreira Brito nasceu por volta de 1790, em Aiuruoca, MG. Parece ter sido o único filho de José Ferreira Brito e Maria José Rodrigues, já que encontramos uma segunda esposa para José, com quem teve filhos a partir de 1795.

Maria José Rodrigues era natural na Borda do Campo, filha de Domingos José Rodrigues Carneiro e Ana Lourença de São José. Seu pai também viveu em nossa região, tendo sido eleitor no então chamado Terceiro Quarteirão do Feijão Cru em 1851. Uma sua irmã, Mariana da Silveira, foi casada com um irmão de José Ferreira Brito de nome Bento Ferreira Brito.

Maria Josefa da Silva, a mãe de Ignacio e Francisco Ferreira Brito, nasceu em Aiuruoca e, como já informamos, era filha de José Gonçalves Neto e Ana Custódia. O casamento com Manoel Ferreira Brito foi celebrado na Ermida dos Lacerda, em Bom Jardim de Minas, no primeiro dia de junho de 1813.

Recreio, MG: Nomes e Sobrenomes

Um dos entraves para o estudo dos antigos moradores é a questão da formação dos nomes. Inúmeros são os homônimos e grande é a variação dos sobrenomes usados dentro de uma família. Sabe-se que, através do hábito conhecido por “paponímia”, um filho do sexo masculino recebia o nome do pai, um outro era batizado com o nome do avô paterno e os demais poderiam receber o nome do avó materno, de um parente mais distante ou do padrinho de batismo. Mas não podemos pensar em regras fixas, de cumprimento rigoroso. Nem tampouco podemos definir a ordem em que o nome deste ou daquele personagem seria perpetuado na descendência.

Uma outra observação se faz necessária e diz respeito à escolha dos sobrenomes. Apesar de algumas publicações respeitáveis citarem determinadas normas, em nossas pesquisas encontramos um panorama nem sempre de acordo com o estabelecido. De modo geral, as crianças que estudamos recebiam apenas um primeiro nome na pia batismal. Mais tarde, e geralmente na cerimônia de crisma, algumas vezes era adicionado um segundo nome. A primeira referência ao sobrenome nós a encontramos apenas quando o jovem ou a jovem realizavam um ato da vida civil, como o casamento ou a participação num inventário. E então, nenhuma regra parecia existir. Tanto encontramos o uso do sobrenome completo do pai quanto da mãe e até mesmo de um parente mais distante.


De todo modo, permitimo-nos abordar uma hipótese baseada nos casos que temos visto: as mulheres das famílias de extratos superiores usavam o sobrenome de família. Ainda assim, isto não era regra geral. Muitas houve que usaram os chamados “nomes de devoção”.

Recreio, MG: Francisco e Ignacio Ferreira Brito

Apesar de alguns esforços, ainda não conseguimos definir, com precisão, a ascendência destes dois personagens. Acreditamos que eram filhos de Manoel Ferreira Brito e Maria Josefa da Silva, sendo netos paternos de José Ferreira Brito e Maria José Rodrigues e maternos de José Gonçalves Neto e Ana Custódia. Portanto, o apelido “Neto”, muitas vezes agregado ao nome de Francisco Ferreira Brito, não teria relação com o nível de parentesco e sim com o sobrenome de seu avô materno. Se nossa hipótese estiver correta, os pais de Inácio e Francisco chegaram à região do Feijão Cru antes de 1831.

Segundo a contagem dos moradores da bacia do rio Angu, Manoel e Maria Josefa constituíam a família de número 86. Através deste que foi o mais antigo documento encontrado sobre os moradores da região, Inácio e Francisco ainda não eram nascidos. No documento seguinte, a contagem dos moradores realizada em 1842, o casal já contava com mais alguns filhos, tendo Inácio nascido entre 1831 e 1835. Já o Francisco teria nascido entre 1835 e 1837.

Os outros filhos do casal, nascidos em Bom Jardim de Minas, foram: João (nascido por volta de 1814), Ana Maria (1820), José (1821), Domingos (1823), Joaquim (1825), Manoel (1827) e Mariana (1828). Não pudemos precisar onde teria nascido a filha Maria (1830). Entre as duas contagens, e portanto no território que hoje pertence ao município de Recreio, nasceram também Emerenciana (1831), Maximiana (1832-1836) e Antonio (1838).