Recreio, MG: Costureiras, Lavadeiras e Hotéis

Escreve-nos um leitor a respeito de nossos comentários de 22, 27 e 28 de janeiro, quando apresentamos os nomes de três mulheres foreiras de terrenos da Fazenda das Laranjeiras. Em sua opinião, as funções declaradas - costureiras e lavadeiras, seriam disfarces para a “profissão mais antiga da humanidadesegundo suas palavras. Com o respeito devido ao autor do comentário, gostaríamos de marcar nossa posição a respeito.
Mary del Priore, em seu livro História do Amor no Brasil, esclarece que o conteúdo da obra não está relacionado às idéias e conceitos da autora, mas àqueles que vigoravam em cada época retratada. E convida “o leitor a olhar um pouco pelo retrovisor da História [...] por meio dos variados documentos” (2006, p.17) que a autora menciona ao longo do livro. É o que temos tentado fazer neste blog, quando apresentamos informações pinçadas nos diversos documentos que pesquisamos. Entretanto, não podemos ir além do que ali está registrado. Seria irresponsabilidade nossa afirmar que as profissões declaradas pelas foreiras eram outras, que não temos respaldo para isto.
De todo modo, entendemos que o leitor faça ilações neste sentido, porque nossa maneira de pensar estrutura-se a partir das informações que vamos coletando ao longo da vida. Sabemos que outros autores publicaram referências como as que a professora Del Priore nos traz no capítulo sobre o amor no século XIX, quando comenta o estudo “A prostituição, em particular na cidade do Rio de Janeiro”, do médico Lassance Cunha. Este autor aborda as “meretrizes de sobradinhoque trabalhavam em hotéis ou nas chamadascasas de costureiras”. Del Priore esclarece que o epíteto refere-se ao fato de serem comunsque mulheres que tinham esse ofício, assim como tintureiras, lavadeiras e cabeleireiras, conservassem seu trabalho embora tivessem ligações passageiras” (p.198).
Uma questão se nos apresenta: o fato de três mulheres assinarem um contrato, comprometendo-se a pagar alguns mil réis de foro anual, é garantia do tipo de profissão que elas exerciam? Podemos afirmar que lavadeiras e costureiras não teriam renda suficiente para honrar o compromisso? Ou seria um preconceito disfarçado, considerando-se que os rendimentos de outros foreiros também se inscreviam entre os tidos como parcos?
Agradecemos ao leitor que nos enviou o comentário e esperamos ter esclarecido nossa posição a respeito do tratamento à informação que retiramos dos documentos da época. Temos tentado “olhar pelo retrovisor da Históriaconforme sugere Mary del Priore. Mas não podemos ultrapassar os registros a partir de interpretações que não encontrem suporte em material produzido no período analisado. Até o momento, nenhum indício encontramos sobre a presença ou atuação de profissionais do sexo durante o período de construção da Estação Recreio. Sendo assim, D. Josepha, D. Guilhermina e D. Ignez continuarão sendo, aos nossos olhos, lavadeiras e costureiras.
Aproveitamos para informar, também, que não nos parece estranha a existência de dois hotéis no arraial que se organizava. Onde ficariam hospedados os trabalhadores da obra? É importante lembrar que estamos tratando da construção de uma ferrovia e que a Estação Recreio foi plantada no meio de uma fazenda, não nas proximidades de algum arraial existente. Pelo que nos foi dado apurar até o momento, os operários, assim como seus superiores imediatos, foram contratados em localidades mais ou menos distantes. E, naquela época, seria impossível voltar para casa ao final da jornada diária.

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