Várias vezes foi abordado, neste blog, o fato de que a origem de Recreio está na passagem da Estrada de Ferro Leopoldina por esta localidade. Na troca de impressões com antigos moradores, sempre pareceu claro que isto não era novidade. Entretanto, frequentemente chegam comentários de leitores que desconhecem este aspecto da história da cidade onde nasceram. É o caso de um visitante do blog que ontem enviou o seguinte comentário: "eles deviam ter construído a estrada fora da cidade para não atrapalhar a vida da gente".
Convidamos o leitor, que não se identificou, para uma leitura esclarecedora. Trata-se de artigo publicado na Revista de História Comparada do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, volume 1, número 1, publicado em junho de 2007. Sob o título Estradas Reais e Estradas de Ferro: Cotidiano e Imaginário nos Caminhos de Minas, Helena Guimarães Campos "articula diversos aspectos ligados ao traçado, à construção, à economia, ao trabalho, à vida e ao imaginário dos caminhos coloniais e ferroviários de Minas Gerais".
Por oportuno, destacamos um trecho do artigo sobre a transformação da percepção do tempo e as mudanças políticas decorrentes.
"Essa transformação que a ferrovia operou sobre a percepção do tempo ficou nítida na rigidez do horário de trens que muito ordenou o cotidiano da população. Antes das estradas de ferro era a luz solar o grande relógio a disciplinar o dia-a-dia das pessoas que organizavam suas atividades de acordo com a hora em que o sol raiava ou baixava, a hora do sol quente, etc. Na era das ferrovias, o tempo fragmentou-se de acordo com a passagem dos trens: eram o "trem das seis", o "noturno", o "expresso", o “cargueiro de tal lugar”… que regiam os fazeres diários.Todavia, esse horário draconiano que embaçava a atmosfera com a poluição das numerosas locomotivas, era responsável por um "arzinho" de democracia. Se antes o todo-poderoso local afirmava sua autoridade fazendo-se esperar em todos os eventos, pois nada tinha início sem a sua presença, a ferrovia lhe impôs a observância do horário. Lá estava ele, de pé na estação, junto com toda a “sua gente”, aguardando a chegada ou a partida do trem que, cumprindo horário, não esperava por ninguém. Verificava-se, na verdade, a substituição da autoridade local pela figura do trem; afinal, era pelo trem, no horário ou atrasado, que todos aguardavam."
O artigo completo pode ser lido neste endereço.
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